Transculturalidade

Pragmática Transcultural e Museu Vivo: “Primitivo” como Futurista
Dinah P. Guimaraens - Junho de 2013

“Em países como os nossos, que não chegam esgotados, ainda que oprimidos e subdesenvolvidos, ao nível da história contemporânea, (...) quando se diz que sua arte é primitiva ou popular vale tanto quanto dizer que é futurista”
(Mário Pedrosa. Discurso aos Tupiniquins ou Nambás. Paris, 1978).

Visando criar um diálogo interdisciplinar e reforçar relações transculturais, a Universidade Federal Fluminense, através de seu Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo-PPGAU, da Escola de Arquitetura e Urbanismo-EAU, ao lado da UNIRIO, busca desenvolver atividades de pesquisa e de extensão com comunidades autócnes de indígenas e afro-descendentes. O Professor Jacques Poulain, da Cadeira UNESCO de Filosofia da Cultura e das Instituições e do Departamento de Filosofia da Universidade Paris 8-Saint Denis, esteve presente ao seminário internacional “Museus e Transculturalidade: Novas Práticas Pós-Modernas”, realizado no MAC-Niterói de 27 a 29 de maio de 2013. De acordo com Poulain, a universidade permite o reforço da cultura socialista no ser humano ao favorecer o espírito crítico que se desenvolve através da filosofia, da literatura, da arte, da arquitetura e da estética com a cultura da comunicação e a história.

Tendo ainda em vista as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena (Lei n° 11.645 de 10/03/2008; Resolução CNE/CP N° 01 de 17 de junho de 2004), e a exigência pelo MEC de que a temática da História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena seja incluída nas disciplinas e atividades curriculares dos cursos de graduação das universidades brasileiras, o seminário tem como uma de suas intenções indagar: Será possível inserir adequadamente as populações indígenas e afro-descendentes neste universo escolástico sob a ótica da globalização e da comunicação, tendo em vista as políticas do espaço público, a valorização do patrimônio imaterial pela UNESCO e sua decorrente educação cultural patrimonial?

Os objetivos específicos da Missão de Trabalho CAPES-Cofecub do Professor Jacques Poulain na Universidade Federal Fluminense, em maio-junho de 2013, referem-se ao estabelecimento de bases para o funcionamento de cursos de excelência em mestrado e doutorado que possam expressar um rico contexto multicultural brasileiro na América Latina, ao lado da discussão da proposta da coordenadora brasileira pela CAPES-Cofecub, Professora Dinah Guimaraens, sobre um Museu Vivo a ser implantado como Canteiro Experimental no Campus da Praia Vermelha, visando a divulgação da cultura nativa e de origem africana através de uma Revista Eletrônica de Pesquisa no meio acadêmico e de extensão universitária, com a participação de agentes indígenas, afro-descendentes e africanos para uma real experimentação transcultural de educação em nível nacional e internacional.

A arquitetura de inspiração “barroca”, segundo Glauco Campello (2001), de Oscar Niemeyer, com suas formas circulares e espiraladas, acabou por influenciar a estrutura da arquitetura brasileira de caráter kitsch dos subúrbios cariocas e do interior do Nordeste e de Minas Gerais. A imagética desta arquitetura kitsch (Guimaraens & Cavalcanti, 2006) expressa uma estética mesclada aos princípios construtivos da arquitetura moderna de Niemeyer, a qual por sua vez incorpora posturas barrocas ao funcionalismo de Le Corbusier. A presença de uma corrente de influência barroca luso-brasileira na obra de Niemeyer é caracterizada pelo uso de elementos de linhas curvas e de forma livre (cf. Underwood, 1992), tal como ocorre com a colunata do Palácio do Alvorada (1956-1958), em Brasília.
Estas colunas foram inspiradas em redes estendidas ou em velas de barcos e se tornaram ícones do poder político federal, tendo seus elementos construtivos caído no gosto popular e sido copiados em fôrmas de gesso, dispostos maciçamente como decoração nas fachadas das casas das classes trabalhadoras em todo o país. Outros elementos absorvidos das obras estéticas e funcionais de Le Corbusier e Niemeyer foram o telhado plano e o telhado “borboleta” (teto em “v”, com uma calha central, onde a água da chuva é drenada), derivadas da estética das “máquinas-de-morar” modernistas

O seminário internacional teve como ideia-chave homenagear a arquitetura-viva de Oscar Niemeyer, tendo selecionado como seu espaço de realização aquele que é considerado como um dos projetos mais expressivos deste arquiteto: o MAC-Niterói, ícone da cidade e da Prefeitura de Niterói. No decorrer de três dias, tivemos a oportunidade de vivenciar in loco os conceitos da filosofia transcultural de Jacques Poulain ao integrar acadêmicos, alunos, técnicos e agentes culturais indígenas e afro-descendentes em uma “experimentação total” universitária.  A “alegria triunfal” do Parangolé e da Tropicália baseia-se no experimentalismo plástico do barracão da escola-de-samba, indicando aquilo que Hélio Oiticica denomina como “lazer não-repressivo” que pode autofundar o indivíduo. O kitsch questiona a própria identidade brasileira: como se pode criar uma arte “autêntica” (artesanal e regional) através da incorporação de tendências internacionais (tecnológicas e globais)?  A postura antropofágica, de Oswald de Andrade a Hélio Oiticica-H.O., contrapõe a vanguarda estética ao consumo da cultura de massas.
O “ready-made” de Marcel Duchamp aproxima-se da estética kitsch ao enfatizar a “não-pureza” que mescla elementos arquitetônicos espúrios. O kitsch é, então, uma ANTIARTE: obra transitória que incorpora posturas do cotidiano. A estética experimental kitsch expressa o papel da cultura de massas como território de fronteira entre arte erudita e popular, representando uma “vanguarda de choque”. A relação entre a imagem e o ser, enquanto estrutura social no espaço-tempo, define as diferentes práticas artísticas como artes visuais, escultura, literatura, arquitetura, música e dança / performance. A reprodução excessiva de imagens visuais na história contemporânea simboliza a imagética típica, em termos estruturais e históricos, da civilização dos meios de comunicação de massa, embora não represente o poder discriminatório de uma era. As imagens do Painel Transcultural traçadas por Duda Penteado e Fernando Pacheco, juntamente com o corpo discente da Escola de Arquitetura e Urbanismo-EAU da Universidade Federal Fluminense-UFF e com agentes indígenas da antiga Aldeia Maracanã, expressam um exercício criativo que encerrou este seminário internacional, no qual o diálogo entre as diferentes manifestações artísticas foi enfatizado.
Em geral, as notações gráficas, em todas as suas formas de expressão, são consideradas como instrumentos fundamentais do desenho artístico. “O pensamento visual” adota os conceitos de “imaginação interativa” e do “conceito figural” para reiterar sua rejeição de qualquer dicotomia entre a concepção do projeto e a gravação da imagem figurativa. Em outras palavras, a notação gráfica empregada para desenhar diagramas e croquis é entendida como sendo fundamental para a concepção do projeto deste Painel Transcultural. O emprego de eixos e formas triangulares como elementos de composição é uma tradição nas artes visuais. O eixo imaginário estabelece uma linha de suporte que cria um tipo de relação entre as partes da composição, quando se define um tipo ideal de um “esqueleto” que apoia a concepção de valores primários de ordem, estabilidade e dominação. Com esta ênfase nos eixos, a ideia geométrica do Painel Transcultural se afirma pela redução da solução tradicional da rede reticulada em um sistema de rede que determina a organização e o layout dos elementos urbanos.
A expressão artística de algo desenhado no papel assumiu assim a forma de um meio ou a forma de um pensamento plástico, tal como ocorreu na proposta de Painel Transcultural realizado no MAC-Niterói em 29 de maio de 2013. Na concepção deste projeto visual, a conceituação do pensamento e o pensamento do desenho podem ser indicados pelo aforismo de Lucio Costa (1962) de que “o risco é um risco” - projeto.

O “risco” dos dois artistas plásticos estimulou a imaginação dita “ativa”, ou seja, uma imaginação com “vontade” (Bachelard, 1979). A concepção do projeto referiu-se aqui a uma atividade onde a notação gráfica aparece como um modo de discurso, ou seja, o discurso de um estilo poético que simboliza um dos quatro níveis de precisão propostos por Aristóteles: poética, retórica, dialética e analítica. Caracteriza-se tal discurso poético como sendo parte da imagem onde o gosto de hábitos convencionais se afirma como forma de ser que deve ser aceita como verdadeira temporariamente, ocasionando desta maneira a suspensão da descrença sobre a realidade imagética. A transição do mundo real, nas artes visuais, decorre do papel fundamental desempenhado pela atividade criadora do olho como órgão que estabelece um espaço comum para a arquitetura, a escultura e a pintura artística.

O essencial entre as três artes da arquitetura, escultura e pintura encontra-se no elemento que o teórico de arte e escultor alemão Hildebrand (apud Poulain, 2002) chama de impressões “arquitetônicas” e que representa a confluência da verticalidade, da horizontalidade e da profundidade como lei geral que constitui o espaço de composição. Sobre a percepção visual deste Painel Transcultural, pode-se estabelecer uma conexão com o mundo para responder à pergunta: o que é (re) apresentado pela imagem (real ou imaginária)? (Cany, 2008, p. 47-48). A resposta clássica é que “o plano da consciência gráfica é que formaliza”, já a resposta tradicional afirma que “é o plano do inconsciente que se materializa” (Bachelard, in op. cit.). Caracteriza-se tal discurso poético, expresso neste Painel Transcultural, como sendo parte da imagem onde o gosto de hábitos convencionais se afirma como forma de ser que deve ser aceita como verdadeira temporariamente, ocasionando desta maneira a suspensão da descrença sobre a realidade imagética.
O Painel Transcultural nos fala, então, sobre a crença em uma sociedade multicultural brasileira, onde representantes de diferentes etnias, estratos sociais e níveis educacionais puderam interagir para construir um espaço dialógico e criativo no universo das artes plásticas, inspirados e contaminados pela forma circular-barroca contemporânea da arquitetura de Oscar Niemeyer.

Professora Dinah Guimaraens, Ph.D. - Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo / PPGAU - Universidade Federal Fluminense/UFF

fotografia: Maíra Soares e Fabiana Carvalho, Escola de Arquitetura e Urbanismo-UFF

Acesse o video da PERFORMANCE :
Transcultural Action Art ( youtube link: http://www.youtube.com/watch?v=k08EbzaYsnQ

Referências:
BACHELARD, Gaston. A Poética do Espaço. São Paulo, Abril Cultural, Coleção Os Pensadores, 1979.
CAMPELLO, Glauco de Oliveira. O Brilho da Simplicidade: Dois Estudos sobre Arquitetura Religiosa no Brasil Colonial. Rio de Janeiro, Casa da Palavra-Departamento Nacional do Livro, 2001.
CANY, Bruno. “Perspective Musicale”, préface in LYOTARD, Jean-François. Que peindre? Paris, Hermann Éditeurs, Collection Hermann - Philosophie, 2008.
COSTA, Lúcio. Sobre a Arquitetura. Porto Alegre, Centro de Estudos Universitários de Arquitetura, 1962.
GUIMARAENS, Dinah. Do Kitsch à Metafísica: Arquitetura, Estética e Imagética Transculturais. Niterói, PPGAU-UFF, 2013. (Org.) Museu de Arte e Origens: Mapa das Culturas Vivas Guaranis. Rio de Janeiro, Contracapa/FAPERJ, 2003.
GUIMARAENS, Dinah & CAVALCANTI, Lauro. Arquitetura Kitsch Suburbana e Rural. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 2006.
HILDEBRAND, Adolf. Le problème de la forme dans les arts plastiques. Préface de Jacques Poulain. Traduit de l’allemande par Éliane Beaufils. Paris, L’Harmattan, 2002.
PEDROSA, Mário. Discurso aos Tupiniquins ou Nambás. Paris, 1978.
POULAIN, Jacques. La Neutralisation du Jugement ou la Critique Pragmatique de la Raison Politique. Paris, L´Harmattan, 2012. De l’Homme: Elements d’Anthropobiologie Philosophique du Language. Paris, Les Éditions du Cerf, 2001. La Loi de Vérité: La Logique Philosophique du Jugement. Paris, Albin Michel, 1993.
UNDERWOOD, David. Oscar Niemeyer e o modernismo de formas livres no Brasil. São Paulo, Cosac&Naify, 2002.

Livro Virtual

LV - do autor ao leitor

Livro Virtual é uma iniciativa de escritores para leitores e escritores, que faz chegar as obras do autor diretamente ao leitor, sem intermediários e de forma gratuita.
Assim, o leitor poderá conhecê-las, lê-las e desfrutar delas.
Sem pagar nada obrigatoriamente por isso.
E o autor conseguirá que sejam conhecidas e terão servido ao propósito fundamental para o qual foram escritas: ser lidas.

Acesse os Veículos:

Veículo I

Veículo II

Veículo III

Veículo IV

Veículo V

Quaternum

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sobrelidos
Mostra 6, 7, 8 de agosto de 2013
Debate 6 de agosto às 19h30

Quaternum sobrelidos, construídos como objetos manuscritos,
baseados em cadernos de recolhimentos e fragmentos sobrelidos.
Vestígios-registros, na busca da visibilidade do processo construtivo.
Receptáculos de possibilidades.

Debate - composição da mesa
Olívio Guedes   -   Lucia Py   -   Cildo Oliveira
Luise Weiss (artista plástica)   -   Rosa Cohen (artista plástica, docente)

Mostradebate sobre objetos manuscritos de caráter intimista, cadernos de recolhimentos baseados em anotações e fragmentos sobre lidos.
Cada expositor produziu 3 gravuras em processo digital de 3 páginas do seu caderno/QUATERNUM que foram expostas na mostradebate.

Casa das Rosas - Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura
Av. Paulista, 37 - Tel (11) 3285-6986 / 3288-9447 - contato@casadasrosas.org.br - Convênio com o estacionamento Patropi, Al.Santos 74.

apoio: ArtPhoto Printing • realização: POIESIS - Organização Social de Cultura - Casa das Rosas - Governo do Estado de São Paulo - Secretaria da Cultura.

NASQUARTAS

Encontro semanal de estudo e pesquisa no espaço da Zequinha de Abreu, das 10.30 as 16h. Lucia Py, Cildo Oliveira, Monica Nunes, Cristiane Ohassi, Duda Penteado, Heráclio Silva e Regina Azevedo.

Centro de difusão, circulação e irradiação do fazer contemporâneo.

Suporte de produção rizomatica de conhecimento,
aberto em interconexões a uma sinfonia de propostas - as várias vozes.

Plataforma de atuação híbrida com idéias de colaboração e convivência.

Sobre um nome não dado, fronteiras devidas I

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“ocupação de espaço” com Cenas/Instalação de dois artistas experimentais:
Lucia Py - Cena 14-04 - De onde vieram?
Cildo Oliveira - Cena 16-01 - Leão do Norte
13 de novembro de 2012 até 8 de fevereiro de 2013

Sobre um nome não dado, fronteiras devidas I, II e III é uma proposta curatorial do NACLA, no Espaço Cultural Casa Amarela com apoio do PROCOA.
DESENVOLVE uma reflexão e discussão sobre
as questões dos processos produtivos e reprodutivos – o mundo digital – na construção da obra de arte, O USO DAS NOVAS FERRAMENTAS DE ACESSO PARA ESTA PRODUÇÃO QUE QUER CAMINHAR COM O SEU TEMPO.

Sobre um nome não dado, fronteiras devidas II
Duda Penteado - Fragmentos & Raízes - Cena I
Heráclio Silva - Fragmentos & Raízes - Cena II
08 de outubro a 02 de novembro de 2013           


Sobre um nome não dado, fronteiras devidas III
Carmen Gebaile - Quando se fia uma vida andante...
Monica Nunes - Quando Pássaros
12 de novembro a 13 de dezembro de 2013           

Espaço Cultural Casa Amarela
Rua José Maria Lisboa, 838 – Jardim Paulista - 01423-001
www.casaamarela.art.br - contato@casaamarela.art.br
Horário de Funcionamento: de segunda a sexta das 10h às 19h
e sábado das 10h às 16h

FórumMuBE|Arte|Hoje|PROCESSOS

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Reflexões sobre as intersecções da arte em um território transdisciplinar, colaborativo,
estabelecendo espaços possíveis para novos paradigmas da arte contemporânea.

PROCESSOS
Refletir os processos produtivos dos espaços de criação artística e suas possíveis irradiações.

Palestrantes: Dinah Guimaraens (Ph.D. - Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo / PPGAU - Universidade Federal Fluminense/UFF), Lucia Py (artista plástica) OlÍvio Guedes (diretor cultural MuBE)
Mediação: Cildo Oliveira (artista plástico)

dia 07 de outubro de 2013 - 14hs-18h - Auditório

Local: Mube - Museu Brasileiro da Escultura - Av. Europa, 218 - São Paulo - SP
Inscrições: Evento gratuito - fone: 2594-2601, r.21 - forummube@gmail.com
Entrada pela Rua Alemanha, 221.

Memória e Amnésia

A questão do tempo na criação
Por Olivio Guedes - estudioso, pesquisador e atuante no campo das artes plásticas

Tempo e memória. Medir. Mensurar o estado de nossa civilização, pois tudo que observamos, julgamos, é o próprio sentimento, é um estado medido para ser validado. O chamado mundo das trocas. Sejam estas visíveis ou não.

A mensuração do tempo em suas primeiras
considerações é exatamente a medida do movimento.
Os Pitagóricos tinham por definição: a esfera que
abrange tudo; pois achavam que era a medida perfeita.


Acreditamos na linearidade do tempo. A gramática e a física nos apresentam isto, ou seja: pretérito, presente e futuro.

A física atual (2012) acredita (tenta cientificar) que no border line de um buraco negro, o que chamamos de Horizonte dos Eventos, exista uma ruptura com a questão temporal, assim, neste local, espaço, o tempo é atemporal.  Plena contradição aristotélica.

Mas, ao sairmos do macrocosmo, do universo e, ao entrar no mesocosmo, mundo da relatividade humana, vamos compreender a relação espaço, tempo e o mundo da criação.

Em qual momento, em qual lugar, portanto: qual o tempo e espaço acontece o criar?

O criar vem de súbito? O criar é um conjunto de circunstâncias? Vamos juntar os dois!

Criar é: um conjunto de circunstâncias que acontece
de súbito.

Quais SÃO estas circunstâncias?

O lugar é o corpo. Se habitarmos um corpo, este corpo espacial detém um conteúdo de experiências genéticas (bio logia), este conteúdo não advém somente de nossos pais e nossos avós, mas de toda a humanidade; ou mais ainda: de todo universo. 

Ao escrevermos sobre criar, escrevemos sobre o novo, mas, para sabermos o que é novo, temos que ter por base um mundo conhecido, este conhecido é a história - a memória. Este verbete “história” tem sua origem latina que, como significante, quer dizer: tecido, que dá origem à histologia, ou seja, o estudo dos tecidos na medicina, contudo, temos também o tecer da Teoria de Campo do universo, muito estudada por A. Einstein, qual é equiparada à mente, que falaremos mais adiante.
Esta configuração, este pensamento, este intelecto, nos faz entrar na questão: o que habita nosso corpo? Quando não falo com minha boca, quem está falando dentro de mim? Vamos chamar aqui de voz reflexiva; reflexiva do quê? Do que vivo! Ou seja: meu conteúdo genético, mais meu meio ambiente executam um movimento de fora para dentro e de dentro para fora, com isto criando uma arte (in natura), a arte de existir.

A genética armazena um conteúdo de dados que me faz adaptar melhor ao meio e com isto progredir em minha existência. Meu existir do pretérito me dá sustentação para o presente. Este estado presente só pode existir se houver criação.

Mas minha criação artística está no enfrentamento das relações genéticas com o meio? 

Para existir a criação, seja artística ou não (entendamos agir a vida como um movimento criativo), temos que existir em conflito? Sim, algo que surge do inesperado (o terceiro incluído na transdisciplinaridade). Algo que nunca foi proposto, ou sugerido por nós.

Portanto, este momento que nunca surgiu veio de onde? Claro que nosso organismo, nosso corpo, detém este conhecimento genético, o meio detém o desconhecido, neste conflito surge à criação.

Vamos lembrar do imlembrável; a falta de memória - a amnésia. Amnésia, ou a quantidade de coisas pelas quais passamos, está armazenada em nosso organismo. Como acessá- la?

Por provocação do meio? Por necessidade de lembranças? Por necessidade de sobrevivência?

O cérebro é um órgão que armazena dados, portanto memoriza circunstâncias. Estas circunstâncias são mantidas próximas pelo motivo de ‘demarcação de sentimentos’, de paixões que elevam nosso momento em vida.

A nossa mente é um aparelho sutil, portanto não palpável, pela sua sutileza, que se recorda, portanto acorda circunstâncias, e compara com o momento presente. Esta capacidade eletrônica, da mente, nos apresenta um movimento de dentro para fora e de fora para dentro (interação). Com isto criando artificialmente (arte como radical) na matéria; surge a arte. A mente é um campo elétrico-magnético (Teoria de Campo) que existe em relação ao nosso cérebro, mas a sua capacidade de extensão depende de algoritmos relacionais.

Neste ponto deveremos interpretar o que é o intervalo. A mente tem sequências chamadas lógicas; lógica estabelecida em sua base pelos conceitos aristotélicos, nesta sequência, portanto linear, se tem o chamado momento (do latim momentum = impulso), este pulso tem sua natureza própria, que é relativa a seu conteúdo físico, por exemplo: o pulsar de um coração humano, o pulsar de uma galáxia. A questão da continuidade, a questão do momento, a questão do instante cria um movimento. Onde surge o primeiro movimento, o Big-bang. Onde aconteceu o Big-bang?
Qual é a ordem da memória? Qual é a ordem dos sonhos? Qual é a ordem para a criação?

Se eu procuro construir uma simples ideia do Tempo, abstraindo a sucessão das ideias no meu espírito, que flui uniformente e é compartilhada por todos os seres, estou perdido e preso em dificuldades inexplicáveis. (Berkeley, Principles of Human Knowledge, I, 98)

Existe o movimento - não podemos entender onde ele começou -, existe a continuidade, que se dividem entre sístole e diástole, mas, o que mais existe, é o momento entre estes dois movimentos, o instante que é chamado de vazio.
Talvez a resposta para entendermos onde foi o começo ocorra no instante vazio; pois já sabemos que o vazio não existe, pois já o reconhecemos.

Ao acessarmos nosso conteúdo de memória, memória amnésia, a memória esquecida, depende da paixão (do grego pathós = sentir), poderemos acessar nosso conteúdo de amnésia, com isto, mais nosso conteúdo genético, ou seja: captando o possível mais o impossível e utilizando isto com o meio, poderemos criar.

Quais os níveis de criação?
1- A criação pode ser um simples estado de necessidade de vida, a respiração.
2- A criação pode ser a necessidade de criar um objeto para transportar um pouco de água, um recipiente.
3- A criação pode ser um recipiente com adornos em sua volta, com isto se tornando o que chamamos de decorado.
4- A criação pode ser algo desenvolvido pelo nosso conhecimento, portanto memória que inventa algo necessário para o desenvolvimento, um automóvel.
5- A criação pode ser algo que poderá ser utilizado no futuro, logarítmicos (criado no séc. XVII e utilizado dezenas, centenas de anos depois).

Por que a repetição É um estado enfadonho?
O ser humano tem a necessidade de criação. Sensação de enfado é produzida por algo lento, prolixo ou temporalmente prolongada demais. A questão da velocidade do tempo.

A ordem do tempo, a ordem do antes e do depois, é redutível à ordem causal... A inversão da ordem temporal para determinados acontecimentos, que é resultado derivante da relatividade e da simultaneidade, é só consequência deste fato fundamental. Desde que a velocidade da transmissão é limitada, existem eventos tais que nenhum deles pode ser causa ou efeito do outro. Para tais eventos, a ordem do tempo não está definida e cada um deles pode ser chamado posterior ou anterior ao outro
(A. Einstein, Philosopher-Scientist, 1949, pg 289)

Entendamos necessidade como algo imprescindível ao nosso momento de utilização da mente. A nossa condição de base contraditória, ou seja, nosso mundo social pede uma existência de verdade. 


O que é verdade? Verdade é um estado onde o pensamento, o falar e a atitude se findam em uma única realização. Este estado se fez necessário pela forma qual nosso mundo social encontrou para podermos coabitar. A verdade é, portanto, uma realidade vista pela maioria que detém o poder de autoridade e, assim, ministra este comportamento para uma convivência supostamente harmônica.

Ao entrarmos em contradição, estaremos vivendo em um momento que não é equilibrado com nosso método de vida social. A criação poderá modificar este estado, por isto as leis são uso e costume.

Assim, a verdade se torna relativa ao momento e local na qual é empregada. Com este escrever, poderá adotar como unidade de Lei única a seguinte frase: “o único estado certo no universo é a incerteza”. Perceberemos assim que a mutação, a inconstância, são momentos eternos.

Chegamos então à questão. O que é realidade?

O tempo absoluto verdadeiro e matemático, na realidade e por sua natureza, sem relação com alguma coisa de externo, flui uniformemente (acquabiliter) e se chama também de duração. O tempo relativo aparente e comum é uma medida sensível e externa da duração por meio do movimento.
(Isaac Newton, Naturalis philosophiae principia, I, def. VIII)

Pela análise física da vida, não é possível a repetição igual, nossa percepção portanto não é profunda e daí nos cansamos de estados observados superficiais como repetidos.

Nossa mente tem um limite de seu aprofundamento, a questão ‘fritar a mente para pensar’. A maioria dos seres humanos tem um comportamento superficial quanto à questão da abstração. Vamos usar como exemplo o mundo matemático. A álgebra é de um conteúdo que poucos humanos podem compreendê-la. A arte abstrata pede uma composição mental ao ponto de um redescobrimento de si próprio para poder analisá- la. A psicologia desenvolve esta questão.

A arte conceitual é um desenvolvimento que busca saber que lugar/espaço ocupo, em que tempo vivo. Nestas análises tenho que compreender minhas composições históricas sociais e buscar meus estados de amnésia e o melhor que estar por vir: a criação.

Futuro não significa um agora que ainda não se tornou atual, e que ficará, mas o “infuturamento’ pelo qual o Ser-aqui chega a si mesmo, por meio do seu mais próprio poder-ser. A antecipação torna o Ser-aqui autenticamente ‘capaz de chegar’, de sorte que a própria antecipação é possível somente porque o Ser-aqui em geral já sempre chegou a si mesmo.
(Martin Heidegger, Sein und Zeit, § 65)


Criação: momento do impossível. Estado de plenitude onde meu desconhecimento habita no todo. Neste momento o ser-profeta se revela em artista, cria o incriado.

Arte é para todo mundo ver

por Maria Elizabeth França Araruna - arquiteta, designer, produtora cultural , sócio-curadora da BArte - Brasil Arte Contemporanea, Recife Brasil

Digo sempre que tenho uma sorte imensa em conviver com pessoas extraordinárias.
Radha Abramo, uma senhora suave e criativa que me ensinou não só sobre arte, mas também sobre a vida, é uma dessas pessoas com quem tive a sorte de dividir meu trabalho e minha existência e autora da frase que dá título a este texto.

Quando a convidei para ser curadora do projeto “Eu vi o mundo... Ele começava no Recife”, intervenção cultural e urbanística no centro da capital pernambucana comemorativa da passagem para o novo milênio e parte das celebrações dos 500 Anos do Descobrimento, não imaginava então toda a grandiosidade dessa mulher.

A intervenção física na Praça Rio Branco, popularmente chamada de Marco Zero por ser o ponto a partir do qual todas as distâncias do Recife são medidas, implicava em sua ampliação, com a inserção de um enorme painel de Cícero Dias, intitulado “Rosa-dos-ventos”, no piso de sete mil metros quadrados da praça e a instalação de uma série de esculturas monumentais de Francisco Brennand sobre o molhe de arrecifes naturais, destacando-se uma torre intitulada “Coluna de Cristal”.

O projeto “Eu vi o mundo...”, cujo título foi inspirado no painel homônimo de Cícero Dias, foi uma das maiores intervenções urbanas feitas no que é chamado de Recife Antigo. Proposto pela Multi Consultoria – empresa da qual participavam o ex-prefeito e ex-governador Gustavo Krause e o arquiteto Paulo Roberto de Barros e Silva – teve projeto arquitetônico de um dos mais renomados arquitetos pernambucanos, Reginaldo Esteves, consultoria histórica do arquiteto Fernando Borba e minha participação como consultora cultural e, posteriormente, como curadoria adjunta.
Ao vislumbrar a grandiosidade do projeto, minha escolha imediata foi RadHA Abramo para ocupar a função de curadora e tratei de convidá-la pessoalmente.
Na época com 82 anos e dona de um conhecimento de boa parte do planeta, Radha nos impressionava por seus múltiplos saberes: estudou filosofia, estética, História, artes plásticas, comunicação e sociologia política.


Professora, jornalista e especialista em arte pública desde a década de setenta, Radha Abramo encontrou, ao longo de sua trajetória profissional, diferentes maneiras de levar a arte e a cultura para o grande público.
Seus conceitos referentes à arte pública e à arte pernambucana, sobre Cícero Dias e sobre Francisco Brennand, fortaleceram e ampliaram os meus próprios conceitos sobre as perspectivas para o novo milênio que chegava e sobre aquele projeto em que trabalhávamos e que tanto mexeu com a vida cultural da cidade.
Em sua opinião, a Arte Pública é uma tendência da arte contemporânea, nascida da constatação de “que a arte foi feita para existir na vida comum das pessoas. Nas ruas, nos parques, nos jardins públicos. Porque as casas ficaram muito pequenas, e aquele velho gosto de colecionar não é mais possível para uma grande parte da população”.

Para ela, a multiplicidade das reproduções não constituía qualquer problema, muito pelo contrário, já percebendo no final do século passado a importância da Internet para os dias de hoje, traduzindo, em uma entrevista concedida ao jornalista Fábio Lucas, sua opinião de forma criativa dizendo que a gravura e a arte pública eram “duas jovens senhoras que vão varar este século. A gravura é a mais honesta, porque é a multiplicação. A gravura é feita para ser multiplicada, para ser de todo mundo. E a arte pública já é de todo mundo”.

Em sua percepção, a diminuição da venda das obras de arte era um reflexo dos tempos atuais, onde os objetos de uso - como, por exemplo, o automóvel - substituem os objetos destinados a serem simplesmente contemplados. Mas a necessidade de sentir a arte persiste. E é aí, em sua opinião, que a arte pública tem sua importância.
Naquela mesma entrevista ela exprime esse conceito dizendo que “no lugar de comprar um carro, a pessoa podia comprar um quadro. Mas não compra mais.

Porque você pode ver a arte na rua, e o ser humano continua precisando disso. Precisa daquele momento em que pare e diga, “que coisa horrorosa” ou “que coisa linda”. Porque esse é o momento em que as pessoas se sentem como seres humanos. “Eu estou pensando, eu estou sentindo. Não sou alguma coisa dessa máquina infernal aí. Estou existindo enquanto eu mesmo, porque estou sentindo alguma coisa.”
Radha, durante sua participação no projeto “Eu vi o mundo...”, nos fez ver ainda melhor a importância de tudo aquilo que estávamos construindo, ampliando a nossa percepção sobre os artistas pernambucanos que, mesmo sendo por nós extremamente conhecidos, passaram a ter sua expressão plástica e sua importância cultural ainda melhor compreendida.

Consciente da seriedade da intervenção cultural e urbana que estávamos realizando, Radha, que por duas vezes viveu fora do Brasil, sentiu em nosso projeto uma maneira de dar uma resposta inteligente e culta aos preconceitos sobre a arte brasileira, ou, em suas palavras, sentia “uma vontade de devolver o preconceito, não porque tenham me atingido, mas porque atingiram outras pessoas. O Brasil não é “um país lá”, como dizem na França. Quando o projeto estiver pronto, vou ficar muito feliz. É como se tirasse uma forra. Vamos mostrar para o mundo “o país lá” que tem a obra fantástica do Brennand, do Cícero Dias”.
Com sua larga visão da História, Radha nos ensinou que estávamos construindo, na verdade, uma galeria de arte em pleno mar, uma ideia que ela achava muito bonita e que, com a Rosa-dos-ventos de Cícero Dias situada no centro da Praça do Marco Zero, seria um local próximo, senão igual à Place de La Concorde, em Paris.

A certeza de Radha Abramo, de que naquele momento tudo aquilo que estávamos fazendo era muito novo para a maioria das pessoas, mas que quando tudo estivesse pronto aquele novo espaço público de arte seria absorvido naturalmente pela população, não era sem razão.
Sua premonição, fruto da sua experiência e sabedoria, foi comprovada pelo tempo.

Doze anos depois, a reorganização do espaço urbano proposta pelo projeto “Eu vi o mundo...” foi absorvida de tal forma pelo público da capital pernambucana que se tornou o grande espaço cívico e cultural da cidade do Recife.

Para nós, que tivemos a oportunidade de conviver, aprender e apreciar toda a sua capacidade e inteligência, só nos resta dizer “Obrigada Radha, por sua colaboração, por sua simplicidade e por sua magnitude”.

Citação de trechos da entrevista concedida ao jornalista Fábio Lucas por ocasião da concepção do projeto Eu Vi O Mundo...



Galeria dos Arrecifes
Francisco Brennand

Coluna de Cristal
Homens vindos das cidades alcançaram as grandes florestas do mundo. Nada melhor como símbolo desse encontro do que a idéia de uma coluna encimada pelo elipse de uma flor, cujo nome é Cristal. Os conquistadores encontraram a Árvores da Vida, catedral de folhagens guardando em seu âmado o OVO resplendente da eternidade.

Sereias
Nesta sentinela avançada do Atlântico, cinco Sereias olham
o tempo: Cora, Severina, Justina, Marina, Alberta. Cada uma é um século. Assim, 500 Anos de descoberta. Ali, tão perto, uma coluna branca tenta ser o pouso
de vôos desconhecidos.



Praça do Marco Zero
Cícero Dias

Recife, a pedra

Diz o profeta Ezequiel ter Deus criado o mundo com rodas.
Diz Dante: com círculos, porque não com círculos?

No primeiro círculo, as águas, calmas ou tumultuadas, nascia o Recife.

No segundo círculo, uma cidade cheia de cores, nas encostas de terras virgens, limitada por corais que vinham à flor das águas, visitadas por poderosos veleiros.

No terceito, tudo circundando a Rosa dos Ventos, com sua própria graduação, em seus traçados geométricos, soprando em volta, pulando em vagas e mais vagas,
a vertigem sideral do universo.

No quarto círculo, a faixa branca indica os planetas.

O quinto círculo, formado de estrelas guiando o homem ao infinito, descobrindo o resto do mundo. Um século cobrindo outros séculos vindouros.

Por fim, o último círculo, uma faixa azul Celeste, envolvendo a terra em toda a sua etensão. Esta faixa que os amigos chamavam de Pátria Celeste.

Beauty for Ashes

Das Cinzas à Beleza
Jersey City Museum
Duda Penteado

QUANDO EU ESTAVA NO ALTO DO PRÉDIO MORGAN BUILDING NO CENTRO DA CIDADE DE JERSEY CITY, PRESENCIEI O DESMORONAR DAS TORRES GÊMEAS DO WORLD TRADE CENTER, (DIA 11 DE SETEMBRO DE 2001) EM NEW YORK, FATO QUE MARCOU PROFUNDAMENTE A MINHA VIDA. FOI COMO SE EU ESTIVESSE REVIVENDO A GUERNICA DE PICASSO, A GUERRA NO NORTE DA ESPANHA EM 1937. ASSIM A OBRA BEAUTY FOR ASHES (DAS CINZAS À BELEZA) 2002 - É O RESULTADO DESSAS EMOÇÕES E SENTIMENTOS E DERAM ORIGEM AO PROJETO BEAUTY FOR ASHES.

 O Projeto Beauty For Ashes se desenvolve a partir dos resíduos de problemas locais, diante de questionamentos globais, numa visão de arte e vida. O Projeto é trabalhado em diversas etapas. Workshops e oficinas envolvendo grupos de jovens numa discussão coletiva contextualizando o entendimento de cidadania e a construção da paz. Criação das imagens e textos das reflexões elaboradas e o registro em um mural/arte pública (retrabalhado pelo artista). Ciclo de palestras, ao lado de uma exposição de vídeos e fotos apresentando o processo criativo.

Duda Penteado revisita o bairro da Aldeia Global no Décimo Aniversário do 11 de setembro de 2001.

Em uma perspectiva brasileira e americana, hoje em dia, Duda Penteado se encontra em uma situação privilegiada para poder refletir sobre a tragédia das torres gêmeas em New York. Em 11 de setembro de 2001, Duda se encontrava em seu estúdio na cidade de Jersey City a uma curta distância do World Trade Center. Cristina, sua irmã, e o marido, seu cunhado Matheus, moravam em um dos edifícios no Battery Park City, à sombra das torres. Foi assim que o artista viu diante de seus olhos, na manhã de 11 de setembro, as colunas de fumaça e as cinzas que se ergueram no dia do ataque, estabelecendo as incertezas de um horizonte sombrio. Com a destruição das torres gêmeas, Penteado foi incapaz de fazer contato por telefone com sua irmã Cristina. Finalmente, dois dias após a tragédia, foi a mãe de Duda que ligou de São Paulo para dizer-lhe que sua irmã e o seu cunhado estavam seguros.
O fato de que um ataque terrorista poderia ser bem sucedido na cidade de New York, no centro da capital financeira do mundo, foi um lembrete convincente que New York é apenas um outro bairro na aldeia global sob a ameaça da guerra do terrorismo.
Duda Penteado, nestes 10 anos, vem criando uma trajetória de reflexão: suas obras contam com dispositivos visuais e pistas literárias do plano de composição e iconografia da Guernica, de Pablo Picasso, que o artista vem usando como referência para construir suas próprias composições. Guernica na Espanha foi escolhida por ser amplamente conhecida nos dias de hoje como uma das primeiras cidades a ser vítima de um “bombardeio estratégico” nos tempos modernos.
Com pistas visuais e literárias, Penteado evoca em suas obras a integração da fragmentação, a morte e ressurreição, o surgimento da beleza das cinzas. Para atingir tais objetivos, ele reinventou a Guernica de Picasso, extraindo as pombas da paz e a iconografia das cabeças decepadas. Um fragmento de uma das vigas de aço das torres foi retrabalhado pelo artista apresentando figuras de vida e morte e a queda das folhas da coroa de louros da vitória. Entre estes acontecimentos aterrorizantes, Duda Penteado busca ressuscitar a beleza das cinzas, o que me lembrou a música cantada por um trabalhador das minas de carvão nos Estados Unidos durante o final de 1920 e 1930.

De que lado você está?
De que lado você está?
No distrito de Harlan
não há neutros
de que lado você está?


Em setembro de 2007, o Jersey City Museum, em Jersey City - NJ, Estados Unidos, teve o privilégio de apresentar uma instalação inédita proposta por um artista inovador, Duda Penteado. Inspirada nos acontecimentos do 11 de Setembro de 2001, Duda traz à tona o debate sobre nossos medos pessoais, sobre o terrorismo, a briga pelo poder, o papel do indivíduo e a busca do entendimento global num mundo que parece cada vez mais desajustado.
Durante alguns meses, eu tive a oportunidade de acompanhar o laboratório de ideias, estabelecido entre o artista e os jovens estudantes de diversas instituições educacionais e culturais de nossa comunidade; revelando sentimentos de ódio ou desconfiança, as consequências da guerra, a ganância, a poluição, o aquecimento global e o medo da alienação do indivíduo no mundo contemporâneo. Ao primeiro olhar, a mensagem desta obra pode parecer pessimista, mas as cores, o movimento, a combinação de intenções e o uso de materiais diversos dão uma dinâmica plástica e uma beleza gótica à instalação.
Das Cinzas à Beleza (Beauty for Ashes), buscando a reflexão através de um universo vasto de possibilidades, incluindo citações de obras de outros artistas como Pablo Picasso, Andy Warhol, entre outros, e imagens de cultura de massa, Duda desenvolve um método de reflexão para explorar as dimensões filosóficas de um mundo globalizado. Assim, o Beauty for Ashes Project propõe uma viagem por diversos países e, entre as imagens criadas nesses lugares, Duda busca, como exercício fundamental, a reflexão sobre todas essas questões.

Marion Grzesiak, 2008 - Diretora Executiva do Jersey City Museum



DUDA PENTEADO E O
              COLETIVO PENSAR

É possível extrair beleza das cinzas? Para o artista plástico Duda Penteado a resposta é positiva. Duda propõe a interação entre linguagens distintas: mural, conceitual, vídeo, instalação, escultura, painel interativo, performance, palestras e outras possibilidades de ações que envolvam o público.
O início acontece com a criação de uma pintura, na verdade numa recriação da Guernica, de Picasso, agora vista sob o impacto do atentado. As cores fortes, a presença das torres no centro da obra e as imagens revisitadas do artista espanhol, como as faces gritando, os braços esticados e erguidos, e o clima de desespero predominam como mecanismos de expressão. Entre a arte e a educação, Duda busca a inclusão social pela arte, cujo ponto essencial talvez seja causar um deslocamento interno de cada indivíduo contra o conformismo.
Poucos sentimentos podem ser piores que uma aceitação passiva da injustiça do mundo ou da agressividade do ser humano. A arte, neste aspecto, possui a rara habilidade de tornar aquilo que parece morto em vida..

Oscar D’Ambrosio (2010) - Jornalista e mestre em Artes Visuais pelo Instituto de Artes da UNESP, integrante da Associação Internacional de Críticos de Arte (AICA- Seção Brasil).
SOBRE CINZAS E BELEZA




A discussão sobre questões relativas ao impacto dos atentados de 11 de Setembro de 2001 no mundo e seus desdobramentos no Brasil são os objetivos propostos pela exposição Das Cinzas à Beleza, de Duda Penteado, artista brasileiro, radicado em Nova York, que o SESC São Paulo apresenta. A arte, mais uma vez, torna-se palco para o desnudamento das relações humanas, ao criar, a partir do caos, possibilidades de significados.
Para o SESC São Paulo, propiciar à população formas de acesso a obras que incentivem a reflexão reafirma seu compromisso permanente com a difusão e inovações artísticas, com o intuito de ampliar a educação pela arte, enquanto caminho para um conceito amplo de cidadania.

Danilo Santos de Miranda (2010)
Diretor Regional do SESC São Paulo


Duda Penteado criou diversas obras de arte, memoriais, instalações, palestras, entrevistas para radio, TV e mídia impressa no decorrer dos últimos 10 anos, usando como ponto de referência o ataque às torres gêmeas (WTC) (setembro de 2011, New York).
Todos os seus projetos tinham como fundamentação a busca do diálogo da paz no século XXI e o uso do instrumento da educação e da cidadania em um mundo globalizado.

Mais recentemente, no ano de 2010, Duda realizou novas entrevistas para a REDE GLOBO, TV CULTURA e sua obra foi selecionada para participar dos arquivos do 9/11
MEMORIAL MUSEUM em New York.

1- Duda Penteado and Marion Grzesiak on My9

2- GLOBO NEWS - 08-09-2010

3- METRÓPOLIS - TV CULTURA - 30-09-2010

4- GLOBO NEWS EM PAUTA - 10-09-2010

5- 9 / 11 MEMORIAL MUSEUM - NEW YORK /USA

Visitas Agendadas pelo site ou email do artista

LUCIA PY - Espaço Atelier - Rua Zequinha de Abreu, 276 - Pacaembú, CEP 01250-050 - São Paulo - Brasil

CILDO OLIVEIRA - Espaço Atelier - Rua R. Tangará 323/23, Vila Mariana - CEP 04019-030 - São Paulo, SP - Brasil

LUCIANA MENDONÇA - Espaço Atelier - Rua Mal. do Ar Antonio Appel Neto, 209 - Morumbi - 05652-020
São Paulo - SP - Brasil
visitas agendadas: lucianamendonca@me.com

HERÁCLIO SILVA - Espaço Atelier - Rodovia dos Tamoios, km 50 - Estrada Zelio Machado Santiago km 4 - Bairro do Macaco - Paraibúna - SP - Brasil

LUCY SALLES - Espaço Atelier - Rua Sampaio Vidal, 794 - Jardim Paulistano - 01443-001 - São Paulo - SP - Brasil
visitas agendadas: lucysalles7@gmail.com

GERSONY SILVA - Espaço Atelier - Rua Ferreira de Araújo, 989, Pinheiros - 05428-001 - São Paulo, SP - Brasil

CARMEN GEBAILE - Espaço Atelier - Rua Francisco Alves, 407- Lapa - 05051-040 - São Paulo - SP - Brasil
visitas agendadas: carmengebaile@yahoo.com.br

LEILA MIRANDOLA - Espaço Atelier - Rua Luiz Delbem, 151, Vila Pavan - 13465-110 - Americana - SP - Brasil
visitas agendadas: leilamirandola@yahoo.com.br

ProMOa

Residência Aberta
Formação de Espaços Alternos
Produção - Formatação - Administração

Informações e agendamento pelo email do artista

Espaço Alterno Lucia Py - A Morada - luciamariapy@yahoo.com.br

Espaço Alterno Cildo Oliveira - Leão do Norte Tramado - cildooliveira@gmail.com

Espaço Alterno HERACLIO SILVA - De Ponto a Pontos... - heracliodesign@gmail.com
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