Arte é para todo mundo ver

por Maria Elizabeth França Araruna - arquiteta, designer, produtora cultural , sócio-curadora da BArte - Brasil Arte Contemporanea, Recife Brasil

Digo sempre que tenho uma sorte imensa em conviver com pessoas extraordinárias.
Radha Abramo, uma senhora suave e criativa que me ensinou não só sobre arte, mas também sobre a vida, é uma dessas pessoas com quem tive a sorte de dividir meu trabalho e minha existência e autora da frase que dá título a este texto.

Quando a convidei para ser curadora do projeto “Eu vi o mundo... Ele começava no Recife”, intervenção cultural e urbanística no centro da capital pernambucana comemorativa da passagem para o novo milênio e parte das celebrações dos 500 Anos do Descobrimento, não imaginava então toda a grandiosidade dessa mulher.

A intervenção física na Praça Rio Branco, popularmente chamada de Marco Zero por ser o ponto a partir do qual todas as distâncias do Recife são medidas, implicava em sua ampliação, com a inserção de um enorme painel de Cícero Dias, intitulado “Rosa-dos-ventos”, no piso de sete mil metros quadrados da praça e a instalação de uma série de esculturas monumentais de Francisco Brennand sobre o molhe de arrecifes naturais, destacando-se uma torre intitulada “Coluna de Cristal”.

O projeto “Eu vi o mundo...”, cujo título foi inspirado no painel homônimo de Cícero Dias, foi uma das maiores intervenções urbanas feitas no que é chamado de Recife Antigo. Proposto pela Multi Consultoria – empresa da qual participavam o ex-prefeito e ex-governador Gustavo Krause e o arquiteto Paulo Roberto de Barros e Silva – teve projeto arquitetônico de um dos mais renomados arquitetos pernambucanos, Reginaldo Esteves, consultoria histórica do arquiteto Fernando Borba e minha participação como consultora cultural e, posteriormente, como curadoria adjunta.
Ao vislumbrar a grandiosidade do projeto, minha escolha imediata foi RadHA Abramo para ocupar a função de curadora e tratei de convidá-la pessoalmente.
Na época com 82 anos e dona de um conhecimento de boa parte do planeta, Radha nos impressionava por seus múltiplos saberes: estudou filosofia, estética, História, artes plásticas, comunicação e sociologia política.


Professora, jornalista e especialista em arte pública desde a década de setenta, Radha Abramo encontrou, ao longo de sua trajetória profissional, diferentes maneiras de levar a arte e a cultura para o grande público.
Seus conceitos referentes à arte pública e à arte pernambucana, sobre Cícero Dias e sobre Francisco Brennand, fortaleceram e ampliaram os meus próprios conceitos sobre as perspectivas para o novo milênio que chegava e sobre aquele projeto em que trabalhávamos e que tanto mexeu com a vida cultural da cidade.
Em sua opinião, a Arte Pública é uma tendência da arte contemporânea, nascida da constatação de “que a arte foi feita para existir na vida comum das pessoas. Nas ruas, nos parques, nos jardins públicos. Porque as casas ficaram muito pequenas, e aquele velho gosto de colecionar não é mais possível para uma grande parte da população”.

Para ela, a multiplicidade das reproduções não constituía qualquer problema, muito pelo contrário, já percebendo no final do século passado a importância da Internet para os dias de hoje, traduzindo, em uma entrevista concedida ao jornalista Fábio Lucas, sua opinião de forma criativa dizendo que a gravura e a arte pública eram “duas jovens senhoras que vão varar este século. A gravura é a mais honesta, porque é a multiplicação. A gravura é feita para ser multiplicada, para ser de todo mundo. E a arte pública já é de todo mundo”.

Em sua percepção, a diminuição da venda das obras de arte era um reflexo dos tempos atuais, onde os objetos de uso - como, por exemplo, o automóvel - substituem os objetos destinados a serem simplesmente contemplados. Mas a necessidade de sentir a arte persiste. E é aí, em sua opinião, que a arte pública tem sua importância.
Naquela mesma entrevista ela exprime esse conceito dizendo que “no lugar de comprar um carro, a pessoa podia comprar um quadro. Mas não compra mais.

Porque você pode ver a arte na rua, e o ser humano continua precisando disso. Precisa daquele momento em que pare e diga, “que coisa horrorosa” ou “que coisa linda”. Porque esse é o momento em que as pessoas se sentem como seres humanos. “Eu estou pensando, eu estou sentindo. Não sou alguma coisa dessa máquina infernal aí. Estou existindo enquanto eu mesmo, porque estou sentindo alguma coisa.”
Radha, durante sua participação no projeto “Eu vi o mundo...”, nos fez ver ainda melhor a importância de tudo aquilo que estávamos construindo, ampliando a nossa percepção sobre os artistas pernambucanos que, mesmo sendo por nós extremamente conhecidos, passaram a ter sua expressão plástica e sua importância cultural ainda melhor compreendida.

Consciente da seriedade da intervenção cultural e urbana que estávamos realizando, Radha, que por duas vezes viveu fora do Brasil, sentiu em nosso projeto uma maneira de dar uma resposta inteligente e culta aos preconceitos sobre a arte brasileira, ou, em suas palavras, sentia “uma vontade de devolver o preconceito, não porque tenham me atingido, mas porque atingiram outras pessoas. O Brasil não é “um país lá”, como dizem na França. Quando o projeto estiver pronto, vou ficar muito feliz. É como se tirasse uma forra. Vamos mostrar para o mundo “o país lá” que tem a obra fantástica do Brennand, do Cícero Dias”.
Com sua larga visão da História, Radha nos ensinou que estávamos construindo, na verdade, uma galeria de arte em pleno mar, uma ideia que ela achava muito bonita e que, com a Rosa-dos-ventos de Cícero Dias situada no centro da Praça do Marco Zero, seria um local próximo, senão igual à Place de La Concorde, em Paris.

A certeza de Radha Abramo, de que naquele momento tudo aquilo que estávamos fazendo era muito novo para a maioria das pessoas, mas que quando tudo estivesse pronto aquele novo espaço público de arte seria absorvido naturalmente pela população, não era sem razão.
Sua premonição, fruto da sua experiência e sabedoria, foi comprovada pelo tempo.

Doze anos depois, a reorganização do espaço urbano proposta pelo projeto “Eu vi o mundo...” foi absorvida de tal forma pelo público da capital pernambucana que se tornou o grande espaço cívico e cultural da cidade do Recife.

Para nós, que tivemos a oportunidade de conviver, aprender e apreciar toda a sua capacidade e inteligência, só nos resta dizer “Obrigada Radha, por sua colaboração, por sua simplicidade e por sua magnitude”.

Citação de trechos da entrevista concedida ao jornalista Fábio Lucas por ocasião da concepção do projeto Eu Vi O Mundo...



Galeria dos Arrecifes
Francisco Brennand

Coluna de Cristal
Homens vindos das cidades alcançaram as grandes florestas do mundo. Nada melhor como símbolo desse encontro do que a idéia de uma coluna encimada pelo elipse de uma flor, cujo nome é Cristal. Os conquistadores encontraram a Árvores da Vida, catedral de folhagens guardando em seu âmado o OVO resplendente da eternidade.

Sereias
Nesta sentinela avançada do Atlântico, cinco Sereias olham
o tempo: Cora, Severina, Justina, Marina, Alberta. Cada uma é um século. Assim, 500 Anos de descoberta. Ali, tão perto, uma coluna branca tenta ser o pouso
de vôos desconhecidos.



Praça do Marco Zero
Cícero Dias

Recife, a pedra

Diz o profeta Ezequiel ter Deus criado o mundo com rodas.
Diz Dante: com círculos, porque não com círculos?

No primeiro círculo, as águas, calmas ou tumultuadas, nascia o Recife.

No segundo círculo, uma cidade cheia de cores, nas encostas de terras virgens, limitada por corais que vinham à flor das águas, visitadas por poderosos veleiros.

No terceito, tudo circundando a Rosa dos Ventos, com sua própria graduação, em seus traçados geométricos, soprando em volta, pulando em vagas e mais vagas,
a vertigem sideral do universo.

No quarto círculo, a faixa branca indica os planetas.

O quinto círculo, formado de estrelas guiando o homem ao infinito, descobrindo o resto do mundo. Um século cobrindo outros séculos vindouros.

Por fim, o último círculo, uma faixa azul Celeste, envolvendo a terra em toda a sua etensão. Esta faixa que os amigos chamavam de Pátria Celeste.

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